sábado, 29 de novembro de 2014

Sobre educação toda a gente escreve... e eu também!

Apesar de pertencer a uma pessoa criativa, que tem ideias para posts enquanto faz as atividades mais corriqueiras do dia a dia (e que depois as esquece, ou não tem tempo para desenvolver as ditas ideias num post), este blogue alimenta-se, por vezes, do que encontra e lê noutros blogues.

Há alguns dias houve uma polémica no Pais de Quatro sobre beijar ou não as crianças na boca (num toca-e-foge - embora houvesse, nos comentários, quem referisse beijos diferentes destes). Não fiz lá nenhum comentário, que é o meu procedimento habitual quando a polémica é muita ("Retiro-me, que sou prudente.", para citar uma fala do pai da "Trigueira" no livro "As Pupilas do Senhor Reitor", que a minha professora de teatro encenou há muitos, muitos anos.).

Esse assunto deu origem a três posts e num deles (ou no primeiro post após esse assunto, já não me lembro) o João Miguel Tavares chamou a atenção para o facto de estarem no top dos posts mais comentados de sempre, no PdQ (o top inclui 5 posts).

Há dois dias o JMT publicou um "apelo aos professores por parte de um pai desesperado e farto de trabalhos manuais" e em menos de um fósforo esse post passou para o primeiro lugar do referido top dos mais comentados.

É fácil perceber porquê: é que sobre educação e ensino toda a gente tem algo a dizer, porque toda a gente é especialista.

A diferença é que desta vez eu também deixei alguns comentários... Não consegui resistir, aliás nem tentei resistir!

Não vou aqui dissertar sobre trabalhos de casa. [Escrevo que não vou, mas no fim do post logo se vê se dissertei ou não.]

Existem professores do 1º Ciclo que exageram nos trabalhos de casa que marcam, e esses que exageram, normalmente são os que os marcam de um dia para o outro. Acho também que há professores dos outros níveis de ensino que marcam trabalhos como se a sua disciplina fosse a única que os alunos tivessem. Não concordo com nenhuma destas posturas.

Há professores que nunca marcam trabalhos para casa. Nunca, mesmo. Não tenho nada contra esta forma de estar. Nada, mesmo. A razão é simples: a escola é o trabalho dos alunos, onde passam muitas horas por dia. Fora da escola, têm o direito de descansar, brincar, pensar noutras coisas.

[Quem me dera a mim, enquanto professora, poder dar-me ao luxo de não pensar no trabalho quando estou fora dele. Até quando estava para dar à luz - bem, não nesse preciso momento, mas quando estava em casa, a dias dele chegar -, dava por mim a pensar naquele aluno e naquela situação e..., e...]

Eu estou mais perto da segunda postura que referi do que da primeira. Não sou dos que nunca mandam trabalhos, mas mando poucas vezes. Em alguns anos, elaborei uma lista de atividades genéricas que podiam fazer em casa, como sugestões. Incentivei que trabalhassem em casa, valorizei quando o fizeram, mas não obriguei.

O que já experimentei, com a ausência de trabalhos de casa regulares, é a reação de alegria dos meus alunos (nem todos, vá) quando esporadicamente mando alguma coisa para fazer.

Os grandes defensores dos trabalhos de casa, em conversas e nos comentários ao post que referi, dizem que os TPC servem para estabelecer pontes entre a casa e a escola, que servem para treinar competências, para os alunos perceberem as suas dificuldades e as transmitirem aos professores, para os pais perceberem o que os filhos vão aprendendo (ou não!), e, sobretudo, para que os alunos se tornem responsáveis.

Concordo que fazer alguns exercícios em casa semelhantes aos que se fizeram nas aulas pode ajudar a interiorizar mecanismos. Bastarão dois ou três, não serão precisas páginas inteiras de exercícios!

Agora, dizer que é assim que o professor sabe se os alunos aprenderam ou não a matéria... é tanga (perdoai o vocábulo deselegante, sim?)! Então o que fazem na sala de aula não dá nenhuma pista? E como é que o professor sabe se a criança fez sozinha ou com ajuda (e que tipo de ajuda: uma orientação, ou um "escreve isto e aquilo, esta letra e aquela, este número e aquele")? Não sabe, especialmente se o trabalho estiver sem erros).

Quanto a tornarem os alunos responsáveis, em alguns casos acredito que ajude, mas não é "trigo limpo, farinha Amparo". Dar aos alunos um recado para darem aos pais também ajuda a desenvolver a responsabilidade. E consome muito menos tempo.

E acho que dissertei, mas não escrevi nem metade do que poderia escrever. O tema não se esgota assim tão depressa...